Não sei se comentei isso anteriormente, mas nas minhas horas vagas me arrisco de escritora, embora morra de vergonha de mostrar o que escrevo, resolvi tomar coragem e publicar esse conto:
Belo Horizonte, maio de 1893
Nas muitas histórias que se passavam entre os muros dos sanatório que movimentavam a economia de Belo Horizonte, essa não é a mais famosa, talvez não seja a mais importante, ou a mais bela...
Mas que liga para títulos ? Essa é a que será contada.
A ultima janela do sanatório era a mais comentada, não por ser a mais bonita, era uma janela como todas as outras do lugar, branca de madeira e sem vida, como as coisas de hospitais.
A janela possuia sua fama devido a figura que nela se prostrava todas as tardes, causando admiração nos pacientes e até mesmo dos doutores que passavam diante dela, gerando paixões não correspondidas e sonhos suspirados nos corredores por onde a morte caminhava livremente.
Nossa heroína se encontra hoje postada na janela, pálida e triste, combinando com a melancolia do hospital e a resignação dos doentes, que já estavam condenados.
D. Eulália se encontrava como de costume na janela, observando o gramado meio ressecado do local, hoje não era dia de visita, os pais não viriam, acha melhor, não aguenta ver a tristeza dos pais vendo a filha, na flor da idade trancafiada naquele hospital cheirando a morte, é preciso informar-lhes que D. Eulália está naquele hospital há um ano.
A beleza da moça faz aquela janela falada, hoje parece que está no auge de sua beleza, o vestido azul escuro contrasta com a tez pálida, e os braços delicados, os cabelo claros emolduram com delicadeza o rosto pequeno e claro, naquele rosto há algo que prende os olhos de todos em seu rosto, são os olhos, dum pretume como a asa de um corvo, que deixa aquele rosto claro vivo, contrasta e dá vida aquele rosto delicado. Não usa nada de enfeites, nem joias, traz os cabelos cacheados naturalmente, usa só a toilette básica, parte de sua beleza é a sua naturalidade, é uma moça delgada e de fala mansa, mas firme.
É impossível ver D. Eulália uma vez e esquecê-la, quando frequentava os bailes era a rainha dos salões, nas óperas, seus trajes eram comentados e copiados, embora nenhuma dama tivesse a elegância e beleza suficientes para igualar-se a D. Eulália.
Lembra-se de Costa, quando se conheceram no baile, dançando uma quadrilha, ele postou seus olhos castanhos dentro dos olhos pretos da moça, e adentrou logo seu coração.
O namoro corria normalmente, mas vieram as tosses, os suores noturnos, as cartas foram rareando. A mente da pobre infeliz se agita. Vê o casamento, o vestido branco todo comentado pela sociedade, a festa e a valsa com Costa...
Mais um acesso de tosse, cai sangue em seu colo de alabastro e no vestido. A tarde vê o ultimo delírio,o ultimo suspiro, o sonho perdido do casamento da moça abandonada pelo noivo que morre tuberculosa naquele sanatório naquele fim de tarde...
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