Remexendo em pastas velhas, encontrei um trabalho do primeiro período (é faz muuuiito tempo).
Resolvi postar pois o tema é interessante, acho uma tremenda falta de educação corrigir uma pessoa que fala errado, ainda mais em público como já vi pseudo-intelectuais fazerem.
De maneira simples o autor Marcois Bagno nos mostra que não existe português errado e sim uma lingua que passa por variações regionais, sociais e econômicas.
(Imagens do Livro)
A principal preocupação do autor
é tentar derrubar preconceitos comuns em nossa língua.
Podemos perceber essa intenção na
capa, quando o autor faz uma homenagem aos sogros, que segundo ele por serem,
negros, pobres, analfabetos e nordestinos, eram um “prato cheio” para os
preconceitos da sociedade. E sua sogra ainda por ser mulher numa cultura
machista. Quando ilustra as fotos da família após 30 anos, nos dá a idéia da
passagem do tempo. Coisa que deveria ocorrer na nossa língua. Mas infelizmente
não ocorre.
Com uma linguagem direta e
simples o autor nos mostra que a idéia que “só fala se fala bem português quem
estuda a gramática” não passa de pura simbologia. O português é nossa língua
materna e a aprendemos desde que começamos a falar.
Quando o autor cita essa
democratização da língua é derrubar o mito do que é certo ou errado, que fulano
fala melhor que cicrano. Entender as diferenças entre a língua e a gramática. A
língua todos sabem e a gramática surge como um padrão. Mesmo que não utilizem
regras perfeitas de concordância ou falem de um jeito diferente da ortografia,
isso não muda o fato que a pessoa sabe falar nossa língua.
Muitas vezes ao ouvir alguém
falando “a gente fomos” pensamos nisso como erros de português, e o autor nos
mostra que os “erros de português” não existem, existem sim erros de
ortografia. Enfim, democratizar é derrubar os preconceitos e idéias fixar a
respeito da língua, que mantemos há muito tempo. Idéias que muitas vezes são
ensinadas na escola.
O autor derruba oito mitos muito
presentes em nossa língua. Que muitas pessoas acreditam neles. Os oito mitos
derrubados ao longo do livro são:
1°: A língua portuguesa falada
no Brasil apresenta uma unidade surpreendente.
É inegável que o português sofre
variações regionais, culturais e sociais, impor a língua portuguesa como uma
única e invariável, uma homogeneidade é negar essa variabilidade.
Devemos aceitar que o português
sofre sim variações em todo o país, na gramática ou na pronuncia. E nem por
isso deixa de ser errado.
2°: Brasileiro não sabe
português/ só em Portugal se fala bem português:
Esse mito reflete o nosso
complexo de inferioridade da relação colonizador x colônia. Como colônia
recebemos sim a língua de Portugal, mas também recebemos influências do inglês,
tupi guarani e francês.
Entre o Brasil e Portugal há
diferenças nas palavras e na pronuncia, e isso não significa que um está
correto que o outro.
3° Português é muito difícil:
Todos nascemos num país que fala
português, aprendemos desde que nascemos. Somos rodeados por essa língua. As
pessoas têm essa idéia levando em conta as regras gramaticais e não a língua.
4° As pessoas sem instrução
falam tudo errado:
Devido à idéia de unificação e
homogeneidade do português qualquer alteração da pronuncia é vista como errada,
considerada falta de instrução, ignorância. Mesmo que a pessoa troque algumas
letras (ex. placa por praca) isso não impede o nosso entendimento
5° O lugar onde melhor se fala
português no Brasil é o Maranhão:
Esse mito surgiu devido ao
constante uso do pronome tu, na fala do maranhense, e o tudo é muito usado na
linguagem portuguesa (isso nos lembra o mito 2). Pronome que já está entrando
em desuso, sendo substituído por você.
Como o português sofre variações
regionais não tem como definir o estado que fala melhor. Cada um fala a sua
maneira, mas todos falam português.
6°O certo é falar assim porque
se escreve assim:
Mesmo que escrevamos uma palavra
de uma maneira, não tem como obrigar todos a falarem da mesma maneira que é
escrita. Pois cada estado tem a sua maneira de pronunciar determinadas silabas,
não significa que a pronuncia diferente é errada. A gramática nos orienta na
maneira de escrever e não pode nos dominar na maneira de falar.
7° É preciso saber gramática
para falar e escrever bem:
Se isso fosse verdade os maiores
escritores saberiam a gramática de trás para frente. O próprio Machado de Assis
abriu a gramática de seu sobrinho e descobriu que não entendia nada ali. Seguir
totalmente a gramática é homogeneizar o portugues.
8° O domínio da norma culta é
um instrumento de ascensão social:
Se isso fosse mesmo verdade,
professores de portugues e lingüistas estariam no topo.A ascensão social está
mais ligada a questão social do que a língua.
Em minha opinião preconceito
lingüístico é desvalorizar as variações que nossa língua sofre, e querer
utilizar apenas a língua formal. Descriminar as variantes e querer adequar o
português com o usado em outros paises.
A sociedade brasileira chega a
ser pouco democrática porque não valoriza as contribuições que as variações
lingüísticas trazem a nossa língua. Tentam generalizar a língua, querem que
todos falem um português sem variações, totalmente igual à gramática. O que foi
comprovado ser impossível.
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