sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Bizarro: Síndrome de Cotard

Imagine você se olhar no espelho e ver um cadáver? Assustador não? É isso que acontece com os portadores dessa rara síndrome.



Nessa síndrome a pessoa acredita que já morreu, ao se olhar no espelho vê um cadáver, pode sentir a carne apodrecendo. Ou adquirir tendências megalomaníacas, acreditando ser imortal.
Foi descoberta em 1880 pelo médico frances Jules Cotard (daí seu nome).
O doente pode sentir a falta de sangue em seu corpo e descrever com detalhes sua morte (que obviamente é fantasiosa né?), sente a falta de órgãos e partes de seu corpo. Pode sentir o cheiro da carne apodrecendo e os vermes passeando por seu corpo (ecaa)
A síndrome é mais frequennte em pessoas com drepessão profunda, esquizofrênia e transtorno bipolar. Por acreditar que está morta o indivíduo deixa de comer, beber, dormir e se limpar. Nesse caso sua ilusão tem grandes chances de se tornar realidade. Há um caso de uma mulher que passou a vestir só um sudário e dormia no caixão, pediu para ser enterrada, como seus familiares recusaram-se ela ficou deitada no caixão até morrer.
Outra mulher viu uma fumaça saindo de sua boca e acreditou ser sua alma, sentia cheiro de podre e via os vermes, mas com os tratamentos ela se recuperou.

E há quem diga que a mente não é capaz de controlar nosso corpo hein?



sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Vladimir Herzog - Casos que abalaram o país

Não ninguém que  tenha estudado sobre a ditadura militar e não tenha ouvido falar de Vladimir Herzog. O jornalista "suicidado" pela ditadura. A imagem do jornalista morto é uma das mais famosas no país atualmente.



Nascido em Osijek, na antiga Iugoslávia em 1937. Filho de Judeus que fugiram da guerra, não conseguia imaginar que seria perseguido por outra forma de ditadura no país que seus pais pensaram encontrar a paz.
Vlado Herzog achava seu nome muito exótico, e passou a assinar como Vladimir.
Se formou em Filosofia pela USP e trabalhou como repórter no jornal Estado de São Paulo até 1965.
No início da década de 60, casou-se com Clarice. Com o golpe militar de 1964, o casal resolveu passar uma temporada em Inglaterra e Vladimir conseguiu trabalho na BBC de Londres. Lá, tiveram dois filhos, Ivo e André. Em 1968, a família voltou ao Brasil. Vlado trabalhou um ano em publicidade, depois na editoria de cultura da revista Visão. Em 1975, foi escolhido pelo Secretário de Cultura de SP, José Mindlin, para dirigir o jornalismo da TV Cultura.
Nessa época atuava politicamente, se filiou ao Partido Comunista Brasileiro. No dia 24 de outubro de 1975 o jornalista se apresenta voluntariamente para dar um depoimento na sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações/ Centro de Operações de Defesa Interna), em São Paulo, para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o PCB (Partido Comunista Brasileiro). No dia seguinte estaria morto, Herzog tinha 38 anos.

Depois que entrou no DOI, Herzog trocou de roupa e vestiu o macacão dos presos.
 Ainda pela manhã, foi acareado com dois presos. Com as cabeças cobertas por capuzes de feltro preto, eles não podiam se ver. Mas um deles, Konder, reconheceu o amigo: “Empurrei a borda do pano e vi o preso que chegava. Eu o reconheci pelos sapatos: eram os mocassins pretos que Vlado usava.”
Nessa hora, Vlado negou que pertencesse ao PCB e Konder e o outro preso foram retirados para um corredor, de onde ouviram os gritos de Vlado e a ordem para que fosse trazida a máquina de choques elétricos. “Os gritos duraram até o fim da manhã. Os choques eram tão violentos que faziam Vlado urrar de dor”, diz Konder. Um rádio foi ligado em alto volume para abafar os sons. Meia hora depois, por volta das 11h, Vlado foi para a sala de interrogatórios.
“Mais ou menos uma hora depois, me levaram a outra sala onde pude retirar o capuz e ver o Vlado. O interrogador, um homem de uns 35 anos, magro, musculoso, com uma tatuagem de âncora no braço, mandou que eu dissesse a ele que não adiantava resistir”, lembra Konder. Vlado estava com o capuz enfiado na cabeça, trêmulo, abatido, nervoso. Sua voz estava por um fio. “Fui obrigado a ajudá-lo a redigir uma confissão que dizia que ele tinha sido aliciado por mim para entrar no PCB e listava outras pessoas que integrariam o partido.” Konder foi levado e os gritos recomeçaram. Essa foi a última vez que Vlado foi visto e ouvido. “No meio da tarde, fez-se silêncio na carceragem”, diz George Duque Estrada que também estava preso no DOI.
Suposta foto de Herzog: Nu e humilhado na carceragem do DOI.

No dia 25 de outubro de 1975 divulgam o suicídio de Herzog. Segundo a versão oficial, Herzog teria se enforcado com o cinto do macacão de presidiário que vestia desde sua entrada no DOI/CODI. Os macacões do DOI não tinham cinto. Suicídios desse tipo são possíveis, porém raros. No porão da ditadura, tornaram-se comuns, maioria até. Dos 17 casos anteriores de suicídio por enforcamento, oito não tiveram vão livre. Em dois, os presos teriam morrido sentados.
Mas o DOI tinha sua própria estratégia para lidar com o assunto. O corpo de Herzog foi entregue à Polícia Técnica e levado ao Instituto Médico Legal, onde chegou sem a roupa com que fora fotografado, mas com os próprios trajes. O laudo do exame de corpo de delito, assinado pelos médicos Harry Shibata e Arildo de Toledo Viana, do IML, concluiu: “quadro médico legal clássico de asfixia mecânica por enforcamento”. Ainda na noite de sábado, o corpo foi enviado ao Hospital Albert Einstein. Estava tudo pronto para mais um sepultamento típico de mortes ocorridas nas dependências das Forças Armadas, durante a ditadura: rápidos e discretos.
Clarice não quis assim. Para que houvesse velório, ela marcou o enterro para a segunda. No domingo, cerca de 600 pessoas foram à cerimônia, entre eles o cardeal Arns e o senador Franco Montoro. “Era a primeira vez que um arcebispo e um senador da República velavam um morto do regime”.
Vladimir era judeu e no judaísmo os suicidas são sepultados com desonra, já que é considerado crime.
O rabino ao preparar o corpo notou sinais de tortura e se negou a enterrar o josrnalista como suicida.

Foto do jornalista morto: Uma das imagens símbolo
da resistência a ditadura.

No cemitério israelita do Butantã, os responsáveis pelo funeral apressaram tanto a cerimônia que dona Zora, mãe de Vlado, não chegou a tempo de se despedir do filho, viu apenas quando jogavam terra por cima do caixão. Quatro jornalistas que estavam presos no DOI-CODI foram levados até o local. Konder foi um deles: “Não deixaram a gente se trocar, me levaram com roupas sujas de urina, sangue e fezes. Foi assim que assisti ao enterro de meu amigo.”
Os presentes citavam navio negreiro de Castro Alves pois realmente era uma época de "horror perante aos céus".
Nas ruas o clima era outro. Ainda na segunda-feira, cerca de 30 mil estudantes da USP, PUC e Fundação Getúlio Vargas entraram em greve. A garotada queria marchar pela cidade, mas aguardava a reunião com os jornalistas. Juntos, aprovaram a realização de um ato religioso pela memória de Vlado na sexta, dia 31. O cardeal Arns tomou a iniciativa: ofereceu a catedral da Sé e disse que estaria lá.
Por medo da manifestação que iria ocorrer o arcebispo foi procurado pela ditadura lhe pediram para cancelar o evento. “Fui informado que existiriam mais de 500 policiais na praça com ordem de atirar ao primeiro grito. Se houvesse protestos, eles metralhariam a população”, lembra dom Paulo. A estratégia dos manifestantes era chegar à praça em pequenos grupos, evitando aglomerações. Cerca de 8 mil pessoas se espalharam pelas escadarias da Sé. As que conseguiram entrar viram o cardeal, o rabino Henry Sobel e mais 20 sacerdotes, entre eles dom Helder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife. “Ninguém toca impunemente no homem, que nasceu do coração de Deus para ser fonte de amor”, disse dom Paulo. “Nas minhas dores, ó Senhor, fica ao meu lado”, respondeu a audiência.

Após mais de 30 anos a morte do jornalista de tornou um marco de resistência a ditadura, sua morte causou grande revolta popular, sua esposa Clarice ("Choram Marias e Clarices" esse trecho de O bêbado e a equilibrista é dedicado a ela). Conseguiu que a União fosse responsabilizada pela morte do marido.
 Herzog e outros tantos se sacrificaram por um sonho de um país melhor, e sua morte não pode ser simplesmente esquecida.
Foram anos terríveis que as gerações futuras devem se permanecer conscientes para fazer desse país um lugar igualitário.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Crimes Misteriosos: Crime do Parque

" Belo Horizonte era cenário de muitos crimes misteriosos, o mais famoso deles, o crime do parque, continua sem solução até hoje" (Roberto Drummond  - O cheiro de Deus)

Antes de ler esse livro, confesso a vocês que nunca havia ouvido falar desse crime, perguntei a minha avó e ela disse que foi bem famoso na época, andei pesquisando sobre o assunto e eis um crime que abalou minha bela cidade na década de 40.
O Parque Municipal, localizado na Av. Afonso Pena é considerado um ambiente familiar e ponto de lazer na cidade.

















Nessas fotos podemos ver como o parque atualmente é lindo e bem cuidado.
Quando criança eu amava esses barquinhos.
Mas o parque nem sempre teve essa aparência bem cuidada.
 Atualmente ele tem uma grade que o circunda, guardas espalhados, mas nos anos 40 não tinha nada disso e era evitado pelas famílias. Não possuia iluminação, era o ponto perfeito para estupros, ladrões, homossexuais e prostitutas, era chamado pela imprensa de "valhacouto de mal feitores" (Adoro o linguajar de antigamente) .
No dia 05 de dezembro de 1496, algumas alunas do Instituto de Educação, próximo ao parque cortam caminho passando por ele e se deparam, num local mais ermo com um cadáver de um homem, que jazia sujo e ensanguentado. Era Delgado, um rapaz de uma família influente em Campinas.
Começa uma investigação sobre a vida de Delgado e descobre um segredo bem guardado, apesar de sua aparência máscula ele levava uma vida homossexual ativa e frequentava o parque frequentemente. Apesar da enorme repercussão do crime, a polícia nos primeiros dias, nada consegue, trabalhando com hipótes de crime passional, latrocínio, etc. E ainda ocorrem várias falhas técnicas como a não inspeção do local do crime pela polícia técnica e misteriosamente, as roupas ensanguentadas de Delgado desaparecem misteriosamente no necrotério. Provocando um imenso impacto junto a populaçãi, que exigia a solução do crime, boatos corriam soltos a longo do culpado, um dos mais impactantes era que o crime era passional e envolvia um integrante da alta sociedade mineira e a polícia estava o protengendo, por isso o sumiço das roupas. 
Surge então o primeiro suspeito, Nicanor Pereira da Silva, filho da empregada de Delgado, mesmo com o brutal interrogatório ele nega a autoria e não sabe porque se tornou suspeito. Os "carinhos" da polícia fizeram tanto efeito que ele suicida, cada um interpreta o ato a sua maneira, mas sem provas, a polícia volta a estaca zero. Surgem outros boatos, como a vingança de um marido traído, e que o crime não teria acontecido no parque e sim numa mansão no bairro Serra, ou que era uma vingança da família de uma ex noiva da vítima.
Em 1948 o crime era considerado insolúvel, eis que surge um novo suspeito, uma bailarina da noite, Iolanda Monteiro, acusa seu companheiro, Paulo Gomes de Matos, também bailarino, como o real assassino de Delgado, sendo dificuldades financeiras o móvel do crime. Começa então um busca frenética do acusado, logo se sabendo que este se encontrava em Buenos Aires. A polícia então providencia junto ao Itamarati e ao Ministério da Justiça um pedido de extradição contra o acusado, inutilmente, porque ele sumira do mapa, não sendo encontrado em lugar algum. Até que, em 1951, ele é preso em São Paulo. Também submetido a violentos interrogatórios, ele nega veementemente a autoria do crime, ao mesmo tempo em que acusa a esposa de querer perdê-lo por despeito e raiva. Sua versão é tão convincente que a polícia não tem outra alternativa a não ser soltá-lo. Mais uma vez, nada.
O crime passa a ser considerado insolúvel, até 1953...
Nesse ano, mais precisamente no mês de março, uma bomba explode junto à opinião pública mineira e nacional: Yeda Lúcia Ribas, ex-funcionária da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, e filha de conhecido empreiteiro de obras públicas, que estava em processo de ação de anulação de seu casamento, alegando erro essencial sobre sua escolha, após tentativa fracassada de desquite amigável, acusa o próprio marido, o jovem diplomata e funcionário da embaixada brasileira em La Paz, Bolívia, Décio Escobar, de ser o verdadeiro autor do brutal assassinato ocorrido no Parque Municipal. Segundo ela, ficara sabendo de tudo em uma determinada noite em um hotel em Porto Alegre (outra vez, Luiz Morando dá outra versão; segundo ele, a revelação se deu em La Paz). Acidentado estranhamente com um disparo de arma de fogo, que lhe ferira a mão direita, e em clima de total horror e histeria, Escobar começara a gritar alucinadamente "É ele! É ele que não me larga... Luiz Delgado...". Depois, começara a lhe contar como tudo aconteceu.


O delegao pede a prisão preventiva de Escobar, mas o próprio acusado ao saber das denúncias vai até Belo Horizonte e é preso no aeroporto.

Nesse meio tempo, a polícia consegue novas provas contra o suposto assassino: primeiramente, um fotógrafo, Duílio Severino, acusado por Zuquim de ser o real assassino, incrimina Escobar, informando à polícia que o acusado lhe teria confessado o assassinato, tendo mesmo queimado em seu atelier suas roupas manchadas de sangue. Depois, um fazendeiro gaúcho, Dirceu Andreotti, e Flávio Stockler, estudante em Ouro Preto, também fazem o mesmo: Escobar também lhes teria confessado o assassinato.
O que mais chama a atenção em Décio Escobar é sua aparência física: bastante alto e magro, calvo, usa uma barba estilo nazareno, vestindo-se sempre de maneira impecável. Fumando demais, seus olhos nervosos denunciam uma pessoa um tanto quanto acuada, apesar de muitos acharem que suas poses eram estudadas, fazendo parte de sua defesa. Frente ao juiz, mantém-se absolutamente calado, mesmo sendo alertado de que seu silêncio era pior para ele. E nem quando lhe foi mostrada uma fotografia de Delgado, sua fisionomia se alterou, continuando em silêncio. Aos repórteres, entretanto, jurava inocência, acusando a esposa de querer sua caveira para conseguir o anulamento de seu conturbado matrimônio.
A imprensa não perde tempo e escancara o escândalo. Não passa um dia sem que novas e sensacionais testemunhas e novas provas fossem estampadas nos jornais, revalando um universo desconhecido da rica e tradicional
família mineira, onde não faltavam homossexualismo, sadismo e violência física, rumores de envolvimento de pessoas importantes ocultamento de provas e assim por diante. E todos ficavam sem saber em quem acreditar, principalmente depois que a empregada doméstica de Escobar, Maria do Nascimento, depõe e incrimina o poeta, dizendo-se ser a pessoa a quem ele entregara suas roupas manchadas de sangue, em completa contradição ao que Duílio Severino informara à polícia. Além do mais, tudo é motivo de desconfianças contra Décio: até um livro de poesias – Rua Sul – editado por ele em Porto Alegre em 1950, suscitou enorme controvérsia, muitos vendo nas entrelinhas de alguns poemas a confissão do assassinato. Terminou sendo anexado ao processo como elemento de prova.
Depois de um ano na prisão, aos 23 de abril de 1954, Décio Escobar é levado a julgamento popular no Fórum Lafaiette, tomado por uma multidão ansiosa e frenética de mais de mil pessoas, ficando o triplo do lado de fora sem poder entrar. O julgamento se transformara num circo. (Coisa normal no Brasil).
Após a leitura dos autos e seu primeiro pronunciamento à justiça, negando veementemente ser o assassino, ao mesmo tempo em que acusa a esposa de perjúrio para conseguir a anulação do casamento, e aproveita para esclarecer as supostas confissões, tudo não passara de brincadeira, dessas que as pessoas fazem com os amigos em mesas de botequim, nunca esperando ser levado a sério.
Yeda Lúcia, a esposa, é a primeira testemunha a depor. Muito elegante em um tailheur cinza, com olhos absolutamente duros e frios, com uma calma que enervava a platéia, confirmou todos os seus depoimentos anteriores: que o marido era homossexual, freqüentador de um cabaré de péssimo ambiente em La Paz de nome "Gato que Fuma" freqüentado por invertidos e pela fina flor da marginália local. Que ele bebia e dançava com viciados, às vezes ficando dias sem voltar para casa, dormindo ao lado desses "índios". Finalmente, que ele, em um momento de desespero confessara a ela ser mesmo ele o autor do crime.
E assim, uma a uma, as testemunhas vão sendo ouvidas: Stockler confirmou que Décio lhe dissera que matara Delgado porque este queria pervertê-lo ao homossexualismo; o detetive Alfredo Zuquim contou sua saga em busca do assassino, não acreditando na culpa de Escobar; Nativo das Chagas confirmou que vira Delgado depois da meia-noite, ou seja, na madrugada do dia 6/12/1946; Ivo Hilário, em depoimento que muito ajuda o réu, confirmou que o poeta tinha o hábito de se recolher até as 23h00min horas, sendo, por isso, impossível ser o criminoso em virtude do horário em que o crime fora cometido, madrugada desse mesmo dia. Até um escritor - Jorge Carrasco - veio da Bolívia depor a favor do réu, elogiando seu interesse em divulgar para os bolivianos a cultura brasileira, o que lhe teria granjeado um longo círculo de amizade no meio intelectual em seu país.
Em seguida entra a acusação. Primeiramente fala o promotor Arnaldo Sena. Em fria acusação que não chega a entusiasmar a platéia, limitou-se a examinar detidamente os autos, prendendo-se aos depoimentos das testemunhas. Chamou a atenção do corpo de jurados para o homossexualismo do acusado, o fato de ele supostamente chegar a casa com a mão ferida e sobre suas diversas confissões do assassinato aos amigos. Depois entra Pedro Aleixo. Em uma hora de acusação, ele dá uma verdadeira lição de dialética e conhecimentos jurídicos, chegando mesmo a abrir mão do depoimento da esposa do réu, alegando ser muito importante para a acusação,necessária à manutenção do libelo acusatório contra Escobar. Foi aplaudido de pé pela multidão, apesar de estar, no íntimo, convicto de que Décio Escobar seria inocentado. Nem esperou o final do julgamento.
Aliás, o julgamento virara um circo: primeiramente, a mãe do réu, Dona Diva Frota Escobar, se transformara em sensação do julgamento. Chamada pela imprensa de "distinta", "heroína", "com fibra indomável" e outros tais, ela comandou a batalha pela absolvição do filho, dando entrevistas, visitando conhecidos e sempre tentando deixar claro para todos que nada existia de concreto contra Escobar a não ser o depoimento da esposa, que não podia ser levado em consideração pelo seu caráter emotivo. Exatamente o contrário do que dissera Pedro Aleixo. Depois, o comportamento da platéia, que participava ativamente do julgamento, rindo, vaiando, aplaudindo e se agitando no recinto. Às altas horas, a maioria dormia a sono solto, muitos roncando. Quando chegava a fome, o Fórum se transformava em um piquenique. O mais estranho era que o réu às vezes se levantava e saía tranqüilamente do tribunal, chegando mesmo a ir a um 
- Por que a esposa do acusado demorara tanto tempo para efetuar sua acusação, se eles já estavam separados há muito tempo?
- Por que a esposa, mesmo após a separação, escrevera cartas de amor ao réu, começando por "meu amor" e terminando com "da sempre tua, Yeda"?
- Por que as investigações relacionadas com o bailarino foram abandonadas pela polícia tão cedo?
- Por que Escobar teria que se encontrar com Delgado no interior do parque, se eram vizinhos no bairro Serra?

Segundo Pimenta da Veiga, Escobar não poderia ter sido o assassino, porque, primeiramente, estava dormindo, como de hábito, à hora em que o crime fora cometido; segundo, Delgado fora assassinado com objeto "perfuro-cortante", e a faca que supostamente pertencia a Décio era daquelas sem ponta. Além do mais, o advogado de defesa levantou uma questão primordial: como poderia Décio Escobar, ex-tuberculoso, de compleição franzina, não pesando nem sessenta quilos, e sozinho, ser o autor de 27 facadas em Delgado, um homem parrudão e chegado a exercícios físicos?
Os outros advogados de defesa seguiram essa mesma linha de raciocínio, a nota hilária do dia ficando por conta de um deles, Ney Messias, que causa profundo mal-estar no recinto ao chamar o acusado de "Cristo transviado e alucinado".
Escobar, chamado pela imprensa de  o “Dorian Gray das Alterosas”, foi considerado inocente por cinco jurados contra dois que o consideraram culpado. Foi a senha para cenas de histeria coletiva, a multidão aplaudindo freneticamente o resultado. Dona Diva, a "heroína", foi carregada em êxtase pela multidão, enquanto Décio, frente a um microfone, declamava o poema de Carlos Drummond de Andrade "E Agora, José?”.
 
Como o jovem poeta foi declarado inocente, o crime do Parque Municipal jamais foi esclarecido.

Escobar morreu alguns anos depois, assassinado a facadas num ponto frequentado por homossexuais.
Coincidência?
boteco próximo para beber um copo de leite, para escândalo dos repórteres cariocas e paulistas que cobriam o julgamento.
De repente um frisson no populacho: Pimenta da Veiga, no alto de sua imponência, começa sua defesa do réu. De maneira clara e objetiva, vai derrubando todas as acusações contra seu cliente, instalando a dúvida nos jurados. Em síntese, ele lhes perguntava: